Em fevereiro de 2014 eu fiz uma coisa que nunca imaginei que teria coragem de fazer um dia, corrigi meu grau de +/- 5 de miopia e +/-2 de astigmatismo. Eu estava com 24 anos numa consulta de rotina quando o médico me incentivou a fazer a cirurgia, considerando que:
-meu grau estava estabilizado há mais de um ano, o que provavelmente iria acontecer nessa faixa etária mesmo;
-meus exames estavam OK, teria que fazer os exames pré-operatórios, mas provavelmente não teria nenhum impedimento;
-meu convênio médico cobriria a cirurgia, pois são obrigados a cobrir acima de 5 graus.

Eu já tinha pensado no assunto e já ouvi pessoas que fizeram falando da cirurgia, porém não conseguia considerar a ideia, eu tenho muito medo e aflição de tudo relacionado a olho. Já tentei, mas nunca consegui colocar lente de contato e quando precisava pingar algum colírio (normalmente para dilatar) era um sofrimento. Então se você também gostaria de se livrar dessa limitação, mas não tem coragem, continue lendo e considere minha experiência.

O QUE ME INCENTIVOU
É estranho pensar que uma pessoa que nem tinha coragem de colocar lente de contato tenha feito uma cirurgia, mas eu tive alguns incentivos:
-Neste ano eu tinha 2 casamentos para ir, pode parecer besteira, mas isso me incentivou sim, pensei:"Se for pra fazer, que seja logo, assim terei mais anos para aproveitar a vida sem óculos". Se eu não tivesse feito teria que ir nos casamentos sem óculos e sem enxergar nada, como já fiz muitas vezes, porque muito provavelmente eu não conseguiria colocar a lente de contato, como já disse que tentei.
-O médico e o técnico da área me explicaram tudo e passaram muita segurança, como se fosse algo muito tranquilo. A confiança na clínica também foi fator importante, já me consultava ali há alguns anos e confiava no trabalho dos profissionais.

LASIK X PRK
Apesar das explicações, obviamente, antes de tomar a decisão, eu pesquisei muito, muito, muito e queria compartilhar aqui abaixo os pontos que considero importante que você saiba sobre o assunto. Basicamente hoje são utilizadas 2 técnicas, seja forte e entenda as imagens:


PRÉ-CIRÚRGICO
Fiz vários exames ( que nunca tinha feito ) a maioria em máquinas em que você fica olhando para alguma coisa. Fiz um que tive que pingar colírio anestésico porque encosta-se um aparelho bem perto da córnea ( não se sente nada, no meu caso, só a aflição, mas esse exame eu já tinha feito antes ). Por fim pinguei o colírio dilatador ( espero que pela última vez na vida ), mas não senti nada, porque já estava com o anestésico. Essa última etapa foi para fazer o último teste do grau também.

CIRURGIA
Cheguei no horário marcado e já assinei as documentações. Em seguida já me deram um comprimido calmante ( perguntam antes se você vai querer ou não ). Depois fui orientada para lavar o rosto e os olhos com um sabonete específico que tinha lá. Foi o dia que eu senti mais nervoso na minha vida, principalmente quando já estava lá. Com relação ao calmante senti um efeito físico que realmente me ajudou a acalmar meu psicológico, mas ainda estava muito nervosa, não senti sono ou moleza, é uma sensação estranha. Rapidamente já me chamaram pra uma sala onde pingaram o colírio anestésico algumas vezes. Em poucos minutos já fui para a sala cirúrgica. 

O fato de fazermos a cirurgia deitados já ajuda no nervosismo físico. Depois de deitar o médico foi explicando tudo o que ele estava fazendo. Eu também tinha muita aflição do aparelho que segura os olhos abertos ( não pesquise sobre isso ), mas é bem mais tranquilo do que parece. Pedem pra você olhar para baixo, colocam fita adesiva na pele e encaixam um lado do aparelho e depois falam pra você olhar para cima e colocam o outro lado. Obviamente não se sente dor, por conta do anestésico. Da aflição, mas é rápido. 

Durante todo o processo pingaram colírio lubrificante (provavelmente) para lubrificar e limpar o olho que estava sem piscar. Como fiz o PRK o médico disse que iria iniciar o procedimento e que se eu sentisse algo poderia falar para parar e colocar mais anestésico. Quando ele iniciou a raspagem eu senti um desconforto bem considerável, meio que uma dor mesmo, mas eu queria tanto que acabasse logo que pensei em aguentar, só iria falar alguma coisa se ficasse muito insuportável. Vi pessoas que falaram que não sentiram nada na raspagem, só um pouco de aflição. Não sei se com mais anestésico eu me sentiria melhor ou não, talvez sim, porque no segundo olho ( que ficou mais tempo com o anestésico) foi melhor. 

Tudo é muito rápido. Depois iniciou-se a aplicação do laser, ele pediu para eu olhar para uma luz específica. Muitas pessoas tem receio do laser, que é o mesmo para as duas técnicas, mas um dos exames pré-operatórios é um escaneamento muito preciso da córnea, usado na cirurgia. Mesmo que você mexa o olho, o laser vai acompanhar o movimento. Se mexer muito, ele pode parar e ter que ser reiniciado depois. É uma tecnologia avançada e segura, mas é claro que tentamos não mexer o olho. Dizem do cheiro de queimado que o laser provoca, mas eu não senti. Depois ele limpou o olho com uma espécie de pincel, colocou a lente de contato e tirou o aparelho que matem o olho aberto. O outro olho foi a mesma coisa, exceto que a raspagem foi um pouco menos incomoda. 

PÓS-CIRÚRGICO
Depois desses poucos minutos fui para outra sala, enxergando embaçado. Muitos relatos, principalmente do LASIK dizem que você já sai enxergando bem, mas no PRK, como disse antes, a recuperação é mais lenta, porém, estava enxergando melhor do que sem óculos antes, com certeza. Colocaram um tampo de acrílico nos olhos e falaram pra eu dormir com ele na primeira noite, como sou medrosa, dormi a semana inteira kkk, até tirar a lente de contato, porque me mexo muito e fiquei com medo de pressionar o olho durante a noite. Depois passaram as recomendações e receita para comprar os remédios para o meu marido e eu. Eu tomei um remédio via oral por uns dias para dor, e tive que pingar dois colírios diferentes durante uma semana e em menor quantidade na segunda semana. Também comprei o colírio lubrificante, que é o que uso até hoje. 

A recuperação foi melhor do que eu esperava. Não senti grandes desconfortos e dor. Quando estava chegando em casa e fomos comprar os remédios, já havia passado bastante o efeito do colírio anestésico. Senti uma queimação nos olhos, mas não dor de pontada ou de cisco no olho. A recomendação para essas cirurgias é de dormir bastante depois, como fiz a noite, foi fácil, até porque, não estava com dor. Antes de dormir pinguei os colírios como recomendado e tomei o remédio para evitar a dor. Ah, não poderia deixar de falar da dificuldade de pingar o colírio. Tentei com meu marido pingando, mas não conseguia, tenho muita aflição, mesmo depois da cirurgia. Então eu tive que aprender a pingar, isso foi difícil pra mim. Eu já tinha ouvido relatos e perguntei pro meu médico se eu poderia pingar no canto interno e deixar escorrer, porque não conseguia pingar da forma correta e tradicional. Ele disse que eu poderia fazer assim, só deveria prestar atenção se o colírio realmente tinha entrado no olho e se necessário pingasse mais uma vez. Assim sobrevivi e assim faço até hoje, claro que hoje já tenho "prática", mas ainda pingo com o olho meio fechado, no canto interno. Antes eu só conseguia pingar deitada. 

Achei que não ia conseguir dormir pelo nervosismo e os tampões nos olhos, mas consegui, não senti desconforto de noite e só acordei no dia seguinte. Quanto as recomendações de TV e computador, pelo menos comigo e com o PRK você não vai se preocupar, até porque você não vai conseguir usa-los, mesmo que queira. Nos primeiros dias a luz incomoda bastante e a visão é bem embaçada. Teve dias que eu enxergava melhor de longe e passei a enxergar embaçado de perto, sensação que nunca tive. Isso foi mudando gradativamente. Eu "assistia" TV com a luz bem baixa e depois de quase uma semana que eu consegui mexer no computador com a luz baixa também, porque antes eu não enxergava direito as letras e a tela. Para as duas técnicas no geral é recomendado que você não faça grandes esforços, exercícios, vá a praia, ou passe maquiagem por 1 mês.

O MAIS DIFÍCIL
Além da adaptação em pingar colírios várias vezes as piores partes para mim foram:
-Muito incomodo e ressecamento na hora do banho morno, por conta do vapor que entrava em contato com a lente de contato. Foi muito ruim e estranho. Não é bem uma dor, mas a sensação é de olho seco mesmo.

-É difícil ficar uma semana ( a primeira é a pior ) sem conseguir fazer muita coisa, nessa hora os ansiosos devem sofrer. Ah, na clínica que fiz a cirurgia não recomendam fazer os dois olhos no mesmo dia no caso do PRK para quem precisa trabalhar ou voltar rápido para as atividades porque a recuperação é mais lenta mesmo. Fazendo os olhos em semanas diferentes um olho compensa o outro. Eu fiz os dois porque eu não tinha problema de esperar.

-Em casa eu senti "dor" em alguns momentos. Umas três vezes. Senti pontadas fortes e assustadoras, de segundos. Temos o contato do plantão do pós-cirúrgico e quando liguei para falar disso me orientaram a tentar ver se a lente de contato tinha caído ou saído do lugar, olhei, e estava tudo certo, me disseram então que provavelmente isso era decorrência de olho seco, para que eu pingasse mais vezes o colírio lubrificante e voltasse a ligar caso ocorresse de novo. Isso ocorreu de novo, mas como disse, coisa de segundos, de pontada, e realmente vi ligação com o olho seco. Eu não gosto de pingar colírio, mas me policiei para pingar mais. Esse lubrificante não tinha quantidade certa, era para pingar conforme via necessidade.

-Depois disso o outro momento que senti "dor" foi uma semana depois quando retornei para tirar a lente. De todos os relatos que li, não vi nada parecido, por isso não estava apreensiva com esse momento. Não sei se isso também tem a ver com o olho seco, mas na hora que o médico tirou as lentes eu senti um desconforto muito chato, mas dessa vez aquela sensação de cisco no olho, de forma intensa, o pior é que não passava, demorou uns 20 minutos. Talvez eu poderia ter pedido para pingarem um anestésico ou coisa do tipo, mas eu achei melhor aguentar, e também não sabia que ia demorar tanto. Depois que tirei a lente o médico já tinha feito a consulta, as perguntas e já tinha olhando meus olhos, então eu só fui sentir o desconforto uns segundos depois que tinha saído da sala dele. Pinguei quase um vidro do colírio lubrificante para tentar amenizar, mas foi um desconforto de uns 20 minutos que de repente passou. Acredito que seja a adaptação da córnea que foi raspada tento contato novamente com a pálpebra. Apesar disso tudo agradeço a Deus, até mesmo o médico disse que minha recuperação foi boa porque tem pessoas que reclamavam muito de desconforto e dor, isso eu não tive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois da retirada da lente fiz vários retornos que vão ficando cada vez mais espaçados. Em todos estava tudo certo e num dos últimos foi feito um teste de grau em que o médico disse que estava ótimo, porque estava com 0,25 em um dos olhos. Ele disse que é normal não ficar tudo em zero, inclusive as pessoas que não usam óculos podem ter 0,25 ( famosa vista cansada ) e além disso ter esse pouquinho de grau me da muitas chantes de não precisar usar óculos para perto na velhice. Isso é um assunto novo para mim, complexo e polêmico e ficará para um próximo capítulo. No próximo retorno quero conversar mais com ele sobre isso.

Quanto ao grau existe sim o risco de não conseguirem retirar tudo na cirurgia, inclusive há uma garantia, depois desses meses, se aparecer algum grau, você pode refazer a cirurgia, se sua saúde permitir, para terminar de resolver, mas isso é mais difícil de acontecer. Com bons equipamentos e médicos já ajuda bastante. O meu médico de pós cirúrgico, que não foi o mesmo que fez a cirurgia, diz que não gosta de falar em "zerar grau". Podemos usar esse conceito para os resultados da cirurgia e de garantia, mas não como algo fixo porque, se depois de um tempo, a pessoa descobrir algum grau não significa que a cirurgia não "zerou o grau" e sim que ela já ia desenvolver o grau naquela determinada idade, tendo feito a cirurgia ou não. Por isso é importante fazer com o grau estabilizado e de preferência não muito novo em idade. Percebo que não enxergo 100% como meu marido, que dizem que tem "visão além" do esperado, mas enxergo melhor do que enxergava com o óculos.

Minha recomendação é de que você faça num local que confie e que por mais que falem que é tranquilo e rápido, mesmo que seja o LASIK, você procure fazer numa época com o maior tempo que você puder, por exemplo, nas férias. Cada pessoa reage de um jeito, é bom você ter bastante tempo para descansar. Você pode até conseguir trabalhar no computador, por exemplo, mas não vai estar 100% e seria melhor você não forçar sua visão nesse início.

Até hoje não consigo acreditar que consegui passar por isso, mesmo com muito medo, valeu a pena. E você tem alguma experiência pra contar ou alguma dúvida?

Fonte do gif: Tumblr
Fonte imagem: Medicodeolhos